25/05/2009
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Líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves é ardoroso defensor de uma aliança de seu partido com o candidato que Lula indicar para 2010.
Acha que o legado de Lula precisa ter continuidade. Com Dilma Rousseff ou com outro candidato. Mas receia que o PT envenene o projeto.
Vai abaixo a entrevista que o deputado concedeu ao blog do jornalista Josias de Souza:
– A direção do PMDB já dispõe de um diagnóstico estadual?
Reunimos nesta semana representantes de 25 Estados.
– O partido está dividido entre Dilma e Serra?
Verificamos que 17 Estados se inclinam para uma aliança com o presidente Lula. Cinco pendem para a aliança com José Serra. Três estão indefinidos.
– Os Estados que se inclinam para Dilma estão fechados?
Mesmo nesses Estados que se inclinam pela aliança com o presidente Lula há condicionantes muito importantes.
– Que condicionantes?
Principalmente o respeito que o PT deve ter aos candidatos do PMDB nesses Estados. É o mínimo que se pode exigir do PT, já que prioriza a eleição nacional e deseja o apoio do PMDB para sua candidata, a ministra Dilma.
– Se o PMDB tivesse de decidir hoje haveria dificuldades?
H – Teria dificuldades.
– Por quê?
H – Basicamente porque as questões estaduais, fundamentais para o PMDB, não estão resolvidas.
– Pode dar um exemplo de problema a ser vencido?
H – O exemplo mais claro é Minas Gerais. Temos um candidato, o Hélio Costa. É ministro do governo Lula. Portanto, confiável ao presidente. E há a candidatura do Fernando Pimentel, uma liderança importante do PT. A situação lá não está sendo bem conduzida pelo PT. É um problema grande. Lá a posição do PMDB é muito confortável.
– O que fazer?
H – Precisamos estabelecer um prazo. Depois, quem estiver melhor, apoia o outro. A seção de Minas tem 70 votos na convenção nacional do PMDB, que vai escolher o candidato à presidência. É a segunda maior delegação na convenção. Portanto, essa é uma questão preliminar e decisiva.
– E se não for resolvida?
H – Se não houver uma boa vontade do PT em relação a Minas Gerais, eu diria que nem adianta conversar mais. Daí pra frente tende a piorar. O Hélio Costa está bem à frente nas pesquisas. Não precisamos tomar uma decisão hoje. Mas é preciso ajustar uma data e um modelo de convivência.
– Qual seria a data e o modelo?
H – A data depende dos acertos. Nem sei se o PT aceitará a sugestão do PMDB. Funcionaria assim: Quem estiver mais bem colocado no mês tal, dia tal, será o candidato ao governo. E o outro vem para o Senado, com uma composição.
– E se o PT não aceitar?
H – Se o PT aceitar esse tipo de critério, facilitará muito o entendimento. Se não aceitar, se não negociar conosco, pode jogar tudo por água abaixo.
– Por que os acertos estaduais são tão vitais?
H – A coligação do PMDB com a candidatura da ministra Dilma dependerá da vontade dos convencionais do PMDB. São pessoas que vem dos Estados. É preciso que cheguem motivados para apoiar essa coligação.
– Quantos peemedebistas há na convenção nacional?
H – São pouco mais de 500 delegados. Alguns tem direito a mais de um voto. O total de votos é 820. Essa gente tem que chegar motivada para a parceria. Se eles vem dos seus Estados brigando com o PT, é melhor nem realizar a convenção.
– Se a convenção fosse feita hoje haveria o risco de vitória do Serra?
H – Digo que seria imprevisível o resultado porque as questões estaduais estão distantes de um bom entendimento. Não esperávamos tratar disso agora. Mas, ao admitir que a ministra Dilma é sua candidata, o presidente Lula provocou, ainda que inconscientemente, a aceleração desse processo nos Estados.
– Quais foram os efeitos da antecipação do calendário?
H – Isso está deixando as nossas bases muito preocupadas. Em todo lugar tem candidato do PMDB e do PT. Hoje, esse conflito está muito latente. Seria imprevisível o resultado de uma convenção do PMDB. Os atritos só ajudam o Serra, não a ministra Dilma. Por isso é importante conversarmos logo.
– Levarão o problema a Lula?
H – Sim.
– Quando?
H – Estávamos apenas esperando o presidente voltar da viagem ao exterior. Precisamos agir imediatamente, para que esses conflitos não permaneçam. Do contrário, pode ser comprometido um projeto nacional que nós queremos realizar com o presidente Lula, apoiando a candidatura Dilma. Quanto mais rápido acontecer essa conversa melhor para o PT, para o PMDB e para a ministra Dilma.
– Acha que Lula resolve?
H – A liderança do presidente Lula junto ao PT é decisiva. Ele será o grande condutor da campanha eleitoral de 2010. Queremos que o PT entenda o seguinte: se a prioridade do partido é eleger a ministra Dilma presidente, precisam respeitar as nossas prioridades. As forças estaduais são o grande patrimônio político do PMDB.
– Consideram a hipótese de Dilma não ser candidata?
H – Essa é uma possibilidade que ninguém pode descartar. Mas as notícias que nós temos sobre o estado de saúde da ministra são muito boas.
– E se a troca for inevitável?
H – Seja a ministra Dilma ou seja outro nome, precisamos ter uma candidatura que interprete esse governo, do qual fazemos parte e que tem um grande apoio popular. A idéia é dar continuidade. Hoje, quem representa esse projeto é a ministra Dilma. Mas se houver um bom entendimento com o PT, respeitadas as questões estaduais do PMDB, o mais importante é a continuidade do governo Lula, independentemente do nome que venha a ser apresentado pelo PT.
– Pretendem discutir com Lula o risco de saída de Dilma do páreo?
H – Não é o momento para isso. Seria até um desrespeito à figura da ministra Dilma. Seria também um desserviço à candidatura dela. O que nós queremos é fortalecê-la. Desde que, evidentemente, nossas pré-condições estaduais sejam respeitadas pelo PT.
– A demora conspira a favor de um PMDB pró-Serra?
H – Tem esse risco. Estou muito preocupado. Sabemos que há vários PTs. Temos que respeitar todas as tendências. Mas, em alguns Estados, o PT tem posições muito arraigadas. Temos o receio de que o presidente Lula e a ministra Dilma não tenham condições de conduzir esse processo como esperamos. É um receio muito agudo.
– Com que prazo trabalham?
H – Queremos definir tudo até o final do ano, para entrar em 2010 já sabendo o rumo que vamos tomar e o projeto que vamos construir–nacionalmente e nos Estados.
– Por que prefere Dilma a Serra?
H – Estamos participando do governo Lula. O apoio a uma candidatura de oposição, que se propõe a mudar os rumos do governo que ajudamos a fazer, seria incoerente. Mas, se houver demora, não posso negar que poderá haver desvio de conduta e a coisa se agravar. Daí a necessidade urgente de uma conversa com o presidente.