14/03/2018
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O norteriograndense tem o costume, sobretudo os homens, de chamar todo mundo de ‘galado’. A expressão pode adquirir viés positivo como se quisesse expressar alguém descolado. Ou negativo: uma pessoa perversa, enrolona, caloteira. Depende de contexto.
A palavra “fascista” está sendo utilizada mais ou menos nesse nível de generalização. Mas ela não tem aspecto de enquadramento elogioso. Só que parece servir atualmente a qualquer tipo de ataque. Uma simples discordância já autoriza alguns a chamar o interlocutor de fascista.
A expressão “fascista”, se não me falhe a memória, surge na década de 20 na Itália como um desmembramento dos “fascio”, espécie de clubes de militância e arregimentação do regime de Mussolini. Depois passou a enquadrar este tipo de totalitarismo.
Recentemente, seu significado histórico vem sendo completamente subvertido e banalizado. Uma severa injustiça, não apenas contra terceiros, mas contra também quem de fato sofreu nas mãos de Hitler, por exemplo.
Porém, serve muito bem para caracterizar escrachos na porta da sala de um professor em que o mesmo é chamado de “merda”, “sem caráter” e, advinhe, “fascista”. O fato aconteceu no curso de ciências sociais na última terça feira e o vídeo circula pela internet. No tempo do zapzap, não basta linchar. É muito pouco. É preciso gravar para que a ação se descole do contexto local e muitos tenham acesso. Esse tipo de protesto (sic) foi largamente utilizado para atacar judeus em seus comércios, ciganos e homossexuais em suas casas. A esquerda e a direita radicais se lambuzam hoje na tática, um eufemismo utilizado entre esses grupos.
Agora, o que deixou muita gente de boca aberta foi a participação de docentes em atos de escracho. Como a vitimização sempre é uma boa tirada, os envolvidos saíram com discursos de assédio, mais uma re-semantização de uma noção.
Na defesa da bondade suprema é assim. Sempre há quem a utilize como subterfúgio para impor seus ódios e frustrações com licença para tanto. É o que acontece. A polêmica com a aluna já desapareceu faz tempo. Preocupação com a criança em sua jornada física e psicológica inadequada? Ninguém nunca teve. Nem no início. Com a ambiência da sala de aula que requer organização, concentração e em consonância com os ditames regimentais? Menos ainda. A própria UFRN, cada vez mais acovardada diante de falsas polêmicas estudantis, relativizou, em nota, o fato de que só pessoas matriculadas podem ficar em sala.
Tudo não passa de bucha de canhão para embalar disputas políticas, departamentais e estudantis. As hienas sempre atacam sua presa no momento oportuno. Coisa de fascista ou de galado? Deixo para você escolher.
Daniel Menezes (do blogue O Potiguar)