Entre ministros do governo que cercam o presidente Michel Temer, o mínimo que se ouve é que a Polícia Federal deu um tiro no pé.
No próprio pé, mas que de tão poderoso produziu grave estrago na imagem do país aqui dentro e principalmente lá fora.
A imagem de boa qualidade da carne brasileira foi posta em xeque. Levará anos para se recuperar.
Por ora, o governo não dá bola para teorias conspiratórias que circulam a respeito nas redes sociais, mas não só – também entre políticos.
A mais insistente delas sugere que a Polícia Federal e o Ministério Público agiram a serviço de interesses internacionais inconformados com a posição do Brasil no ranking dos maiores exportadores de carne do mundo.
Nada provável. Soa a absurdo. O entendimento que prevalece no governo é o de que a Polícia Federal e o Ministério Público, embalados pelo sucesso da Operação Lava Jato, limitaram-se a aplicar na Carne Fraca os mesmos métodos de investigação que até aqui haviam dado certo.
Não só de investigação, mas também de comunicação posterior com o público.
A Carne Fraca foi deflagrada no dia em que a Lava Jato completava três anos de êxitos.
A Polícia Federal tratou a operação como a maior de sua história.
Exagerou.
Valeu-se de mais de mil agentes para fazer sete prisões e recolher material nas empresas alvos da ação. Escalou um delegado inexperiente para explica-la depois aos jornalistas.
O erro mais sério teria sido o de não socorrer-se de especialistas em saúde sanitária para evitar disparates do tipo “papelão misturado à carne” ou de ácido impróprio usado para conservar ou conferir melhor aparência às peças de carne para venda.
De resto, as conclusões tiradas o foram a partir de apenas dois laudos periciais. Pouca coisa por enquanto.
Blairo Maggi, Ministro da Agricultura, foi escolhido para defender a indústria de carne e bater de frente na Polícia Federal, tarefas que desempenhou a contento até ontem quando exorbitou.
Ao comentar a decisão do governo do Chile de suspender as importações de carne brasileira, ameaçou retaliar os produtos daquele país consumidos por aqui.
Pior: Blairo disse contar para isso com o apoio do presidente da República. Bazófia, certamente.
Primeiro porque tal disposição não combina com o estilo ameno e negociador de Temer. Segundo porque não foi só o Chile que impôs restrições à importação de carne brasileira, mas também a China e países da Comunidade Econômica Europeia.
A propósito: pelo menos até ontem à noite, os países que compram carne ao Brasil pesaram pouco a mão ao reagirem às descobertas da Polícia Federal.
Não porque sejam bonzinhos ou descuidados. Devem estar avaliando as providências tomadas pelo governo brasileiro para enfrentar o problema e mais revelações que a Polícia Federal possa oferecer.
A prudência de Temer manda que ele e seus ministros evitem um confronto aberto com a Polícia Federal e o Ministério Público.
Os dois são bem avaliados pelos brasileiros e guardam segredos que poderão atingir ainda mais políticos próximos de Temer.
Um já foi atingido por um disparo de advertência: Osmar Serraglio (PMDB-PR), Ministro da Justiça.
Doravante Serraglio terá como um dos órgãos subordinados ao seu ministério uma Polícia Federal com munição suficiente para causar-lhe sérios danos.
Ligado à bancada ruralista no Congresso, Serraglio foi pego chamando um dos presos da Carne Fraca de “grande chefe” e interferindo a favor de um frigorífico do Paraná sujeito a fiscalização.
Por Noblat