Diálogo é uma palavra vazia para a presidente Dilma. Primeiro porque ela nunca soube de fato dialogar. Sabe mandar. Ou melhor: nem mandar sabe. Manda, apenas. E espera ser obedecida.
Segundo: por diálogo, pelo menos no mundo em que vive desde que se tornou uma executiva de governos, ela entende o toma-lá-meu-voto-e-me-dê-cá-meus-benefícios. E Dilma não gosta disso.
Além de não gostar, falta-lhe paciência. Ela vê com desprezo os políticos que lhe pedem coisas. E todos, simplesmente todos, lhe pedem coisas.
Para reduzir as ocasiões de ser obrigada a ouvir pedidos disso e daquilo outro, ela é capaz, como foi ontem, de almoçar com deputados e senadores e de só falar sobre sua boa forma física.
Foi embora com a fama reforçada de antipática. E de inimiga da única forma de fazer política que os políticos entendem. Para não ser abandonada por eles, tem dado mais do que gostaria, é verdade.
Perguntem a Eliseu Padilha (PMDB-RS), ministro da Aviação Civil, e uma espécie de subcoordenador político do governo que auxilia o vice-presidente Michel Temer na tarefa de distribuir cargos.
Padilha e Temer têm sido pródigos em presentear com cargos aliados do governo. Dos 513 deputados federais, Dilma precisa contar com 170 para barrar um pedido de impeachment contra ela.
No barato, ponha cinco cargos bem remunerados por deputado. Multiplicado por 170, são 850. Por enquanto. Amanhã nunca se sabe. Não subestimem governo fraco.
Alcançada a meta, se preferir dobre. O apetite dos políticos não tem limite. E eles precisam de cargos para fazer negócios. O mais bobo dos negócios: pagar despesas de campanha com dinheiro alheio.
Dilma detesta a natureza do jogo que poderá lhe garantir o cumprimento do atual mandato, mas quem entra no jogo é para se molhar, segundo Vicente Matheus, ex-presidente do Corinthians.
O loteamento do governo aumenta as chances do roubo puro e simples. Dilma sabe. Faz de conta, porém, que ignora.
Por Ricardo Noblat