Walfredo Gurgel Doente

O maior hospital público do Rio Grande do Norte, paradoxalmente, cavalga ofegante e sem um “norte”.

Muitos de seus súditos suplicam por uma aposentação especial, vez que já adernaram o próprio sangue, o suor e a saúde, salvando vidas e atenuando o sofrimento dos que gemem de dor.
Em um lamento tristonho e silencioso, pouco a pouco, vão ocupando o mesmo limite de chão que pertenceu a outro, durante o dia de ontem.
Faltam-lhes remédios, lençóis, alimentos e calor humano.

Amigas, amigos e colegas de plantões suplicam por socorro. Já não conseguem exercer o ofício escolhido com dignidade.
Muitos sufocaram o choro incontido, ignoraram a vergonha e saíram mendigando algumas moedas que lhes garantissem o retorno ao trabalho no dia seguinte.

Corredores com exorbitância no número de macas; leitos sendo desativados e a vida indo embora, dia após dia, com uma intensidade que surpreende e causa extrema indignação.
No ambiente familiar já não há o “sustento” que havia no passado.

A vida adoeceu… a falta do alimento ensejou a mendicância.

O “Natal em família” de muitos, bem diferente do passado, será tão somente um momento de jejum e oração.

Nunca, em momento algum, durante toda a minha vida profissional, vi um “fim de ano” tão marcante para o Servidor Público. Inesquecível!
Esta é a dura realidade dos grandes hospitais públicos do nosso Estado.
Não fosse pelas vidas salvas, não faria sentido tanta luta.

O riso transformou-se em lágrimas e a gratidão virou revolta.
Que Deus nos abençoe!

Natal, 21 de 12 – 2017.

Sebastião Paulino da Costa.
Médico: CREMERN 2495
Advogado: OAB/RN 2994

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